Depois de uma carreira na natação e nas águas abertas eu não poderia imaginar que me envolveria tão profundamente com uma modalidade que mal conhecia.

A história do Paddleboard em minha vida só pode ser contata após eu apresentar o responsável pela minha inserção nesse meio. Espero que esse depoimento inspire quem lê a permitir todas as formas que o amor pode florecer em um relacionamento. Gosto de ressaltar que: não me sinto menos potente por ter sido conduzida por um homem nessa e em outras partes da minha atual vida. O que importa é ser nossa escolha e manter todas as opções de caminhos abertos.

imagem: reprodução/arquivo pessoal/instagram

Falo isso, porque quando mais jovem eu dificilmente me abriria para um cenário onde permitiria tanta influência do meu companheiro, eu era muito resistente a fazer escolhas onde não sentisse que eram 100% minhas. Hoje, após tomar rumos diferentes das crenças que eu cresci, me sinto muito feliz por ter permitido me entregar as ideias que ele teve para mim.

Eu conhecia a modalidade do Paddleboard, tão bem quanto conhecia aquele que viria a ser meu futuro marido, Patrick Winkler. Por já ter trabalhado com ele em alguns eventos pontuais, eu sabia superficialmente sobre seus hobbies, prontamente sobre seu trabalho fazia o completamente sobre o quanto amava a natação, de onde ambos viemos.

A primeira vez que tive ciência da existência do Paddleboard foi em 2017 em meio a campanha de divulgação do próprio Patrick sobre seu desafio de 32 milhas (52km) no Hawaii chamado Molokai to Oahu (nome das duas ilhas onde acontece a travessia). Naquela época eu não sabia que essa era uma das provas mais tradicionais de paddle, nem o quão extensa era a história da modalidade. Achava que era algo meio desconhecido e pouco praticado, mas estava enganada.

Nesse ano eu fazia meus maiores desafios em águas abertas como as etapas dos Grand Prix da Fina (federação internacional de natação) de 57km na Argentina e a prova de Capri Nápoles na Itália, além das principais ultramaratonas em território nacional, que pude ganhar o título de todas em que nadei nesse ano.

Eu segui nadando até o ponto de virada da história de grande parte do globo terrestre : a pandemia. Havia feito um retiro de 40 dias na chapada da Diamantina e duas semanas após meu retorno a cidade de Santos onde eu morava ficou em Lockdown inclusive as praias. Eu e uma amiga alugamos uma casa na beira da represa de Avare onde passamos pouco mais de um mês até eu receber um inesperado convite: nadar 24h em uma ação beneficente.

Quando é para acontecer, acontece né ? O desafio aconteceria na sede física da Swim Channel, a maior mídia especializada em natação da ibero-america, ao qual Patrick é fundador e sócio e que eu já escrevia como colaboradora desde 2015. A sede da Swim Channel não tinha piscina até 2 meses antes dessa data do desafio, quando foi forçado a ser mudada pela compra do terreno alugado por um empreiteira em valores exorbitantes. Ou seja: a mudança aconteceu no momento perfeito para acontecer o desafio ao qual fui chamada.

Após o evento dois processos paralelos foram acontecendo: eu fui profissionalmente me aproximando da Swim Channel, enquanto eu e Patrick também nos aproximávamos mais, até meses depois chegar no ponto de existir uma relação clara. Eu nem imaginava, mas nesse momento ele tinha o plano traçado para me apresentar não somente o Paddleboard como também outras modalidades polinésias.

Foi de uma forma didática e melhor do que se tivesse programado muito. Primeiro de tudo ele me contou a história de Duke Kahanamoku, seu maior ídolo nas modalidades de remada e considerado um dos pais do surf. Na sequência ele me mostrou sua palestra sobre Paddleboard, com a história da modalidade, principais tipos de pranchas, os eventos mais tradicionais e os principais nomes. Depois me ensinou sobre canoa havaiana e Stand up paddle, cheguei inclusive a ensaiar a remada, dentro de casa, em pé , com os remos que ele tinha de ambos eu repetia os movimentos no ar e enquanto ele me falava os nomes técnicos dos equipamentos.

Minha primeira remada com Patrick foi de SUP, depois fui apresentada a canoa polinésia com o grupo do Ricardo e Dani Almada na represa Billings, na sequência fui levada para tentar surfar de longboard, até então chegar na tão esperado Paddleboard.

Patrick tinha em casa duas pranchas de Paddleboard ambas importadas: uma prancha americana da famosa marca Bark no modelo Stock (com 12 pés de comprimento) que era sua prancha de competição oficial e uma prancha australiana no tamanho 10’6 pés da marca benetti.

As pranchas de tamanho 10’6 são muito usadas no salvamento aquático, onde existem inclusive competições oficiais nacionais e mundiais de lifesaving, mas para quem não compete, esse é o famoso modelo para surf de Paddleboard. Com uma prancha mais “curta” fica mais fácil o controle na reagirão de arrebentação do mar, tanto para passar pelas ondas, como para surfa-las.

A prancha no tamanho de 12 pés é a usada oficialmente no campeonato mundial da modalidade, que é regulamentado pela ISA ( International Surfing Association) a mesma responsável pelo surf de pranchinha do Gabriel Medina, Ítalo Ferreira e outros famosos ao grande público. Esse tamanho de prancha é indicado para longas remadas e anda mais rápido do que a 10’6, pois se tem algo que eu aprendi é que: quanto maior a prancha, mais rápido ela vai. Por isso que as categorias são definidas pelo tamanho do equipamento. A prancha 12 pés corresponde à categoria Stock.

Aproveito aqui para comentar que existe também a categoria “unlimited”, onde a prancha não tem limite de tamanho e os tamanho mais usados são 14’, 16’ e 18’ pés, mesmo assim é possível encontrar maiores. Atualmente temos uma 18’ pés em casa.

Vale lembrar que além de ter sido atleta de alto rendimento, eu passei alguns anos competindo provas não oficiais e ganhando muito reconhecimento e autoconfiança. Previsível que eu cheguei muito “marrenta” no momento de aprender o Paddleboard, inclusive por ter disputado braçada a braçada com Patrick a única prova que havíamos nadado juntos, uma travessia Fuga das Ilhas no final de 2019.

Não foi nem um pouco fácil, nem para ele segurar minha ansiedade ao aprender, nem para mim, lidar com as frustrações de ser um iniciante novamente, uma sensação que eu não sentia desde 2002 quando comecei a natação. Nem se quer nas minhas primeiras provas de maratonas aquáticas passei por isso, onde já ganhava minha faixa etária logo que comecei, por ter uma base muito grande da natacao de piscina.

Meu primeiro desafio foi segurar a prancha! Pois é ! Nunca andei com equipamentos tão grandes, além de ter que ter uma super dimensão de espaço, parece que nenhuma posição encaixava a prancha embaixo do meu braço junto ao corpo, era muito grande. Eu tomei várias broncas com medo de encostar a prancha em algum lugar que não devia e poder machucar ela.

Depois do desafio de transportar a prancha para o ambiente de treino existe o desafio de montar a prancha, que para mim no começo era só colocar a quilha. No futuro eu aprenderia a colocar também o suporte de água para levar hidratação, prender o relógio que marca a distância e o ritmo e a quexeira que protege o queixo nos momentos em que descansamos a cabeça encostada na prancha para aliviar a cervical. Mas no começo só a quilha eu já conseguia colocar virada para o lado contrário e ter que por de novo!

Minhas primeiras remadas foram de 10’6 na Represa Guarapiranga. Patrick saia na minha frente e falava para eu dar meia volta quando visse ele voltando no horizonte. Nessa época ele fazia um treino parecido com 8km rodado. Eu fazia em torno de 4km e inventávamos uma forma de terminar juntos.

A prancha dele era mais abaulada embaixo, o que requer mais equilíbrio. Nas primeiras vezes que deitei eu rolei e cai do outro lado. Que momento vergonhoso! Eu não conseguir ficar nem deitada na prancha! Isso foi se resolvendo com muito treino… até hoje eu me sentir segura para ficar de joelhos (que exige mais equilíbrio ainda).

Nessa modalidade só existem duas posições: deitado e de joelhos. Nas competições normalmente passasse 70% do tempo deitado e 30% de joelhos, pois a posição sobre os joelhos consome muita energia e cansa rápido.

Aproximadamente com 2 meses de prática fui convidada para participar de uma travessia de amigos na distância de 27km feita da praia Vermelha do Norte em Ubatuba até a praia de Cambury de Ubatuba que fica na exata divisa entra os estados de SP e RJ. Claro, que só me permitiram ir pelo meu currículo de longas distâncias nas maratonas aquáticas. Conheci vários outros remadores da modalidade, o Ricardo Almada me emprestou uma prancha de 12’ pés para essa aventura que durou mais de 5h para mim. Eu só não fui a última a chegar pois teve uma dupla de surfistas que nunca havia remado de paddle que aceitou fazer o desafio em revezamento com uma prancha 10’6.

Nesse evento eu absorvi o espírito que a modalidade do Paddleboard vem criando no Brasil e extrema fraternidade de confraternização. Isso não era uma competição, era um passeio, pois realmente é muito prazeiroso remar em um prancha de paddle.

O próximo encontro marcado era também minha primeira competição oficial chamada Molokabra. Um evento em fortaleza que leva o nome “abrasileirado” da lendária Molokai to Oahu. Essa competição é em formato de Downwind , nada mais é que: “a favor do vento” onde os participantes vão surfando os “bumps” ou “vagalhões” de ondas oceânicas longe da costa. Chega a ter rajadas de 30 nós durante o trajeto. Para isso é essencial saber surfar as ondas na posição em que remamos, ou seja, deitado ou de joelhos (que seria o ideal).

Na minha preparação para o Molokabra minha primeira competição, o técnico e remador de Paddleboard de santos Rogério Melo me emprestou sua prancha fabricada pelo bahiano de salvador Maurício Abubakir, um dos principais nomes da modalidade no Brasil justamente por ser um dos poucos fabricante desse modelo de prancha no Brasil e também remar de Paddleboard a muitos anos.

Para mim, já era uma novidade eu ficar com um equipamento desses por quase um ano (que foi tempo que ele deixou comigo, porque mesmo após o Molokabra eu continuei treino para outros eventos de Paddle).

Em outubro realizei minha tão esperada primeira prova de paddle. O Molokabra aconteceu em 3 dias seguidos onde remamos três trajetos: na quinta-feira remei 12 km em 1h29min, na sexta-feira 18km em 2h17min e no sábado, fechando com 32km, remando do Iate Clube de Fortaleza, até a praia de Cumbuco em 4h23min. Tudo nos fortes ventos do Ceará.

Patrick não foi tão bem quanto esperava nesse evento, um fator muito importante foi o fechamento da Raia da USP durante a pandemia, loca onde ele mantinha seus treinos. Ao contrário das cidades litorâneas quem deseja praticar o paddle no interior do estado precisa encontrar uma represa para isso. Sem a raia da USP a represa Guarapiranga foi um alternativa mesmo sendo mais fora de mão o que impedia a consistência nos treinos. Hoje estamos de volta para a raia da USP pelo clube Free Paddle ao qual nos vinculamos. Existem vários clubes lá onde é possível se filiar e se tornar mensalista e usufruir da raia nos horários reservados para ele.

Com um resultado fora do esperado ele se dedicou muito para a próxima competição. Eu acabei indo junto. A partir de novembro de 2020 comecei remar frequentemente de paddle e não parei mais. Em dezembro conquistei meu primeiro título de campeã paulista na modalidade na represa billings em uma prova de 6km. Competição onde Patrick venceu seus adversários com uma vantagem interessante, se sentindo muito feliz.

Em 2021 com uma nova onda de covid muitos eventos adiados, minha próxima competição de Paddleboard foi em novembro onde conquistei meu segundo título paulista na praia do Sapê em Ubatuba na distância de 10km. Em dezembro participei do Festival Brasileiro de remada em Santos. Com a distância de 4km.

No ano de 2022 com a normalização da situação do Coivd, tivemos mais eventos com a modalidade : aloha Spirit em ilha bela com as distâncias de 2,5km para iniciantes e 10km para os mais treinados. SUP Cross em São Vicente (Sp) com a distância de 3km. Festival de remada Itanhanese com a distância de 4km.

imagem: reprodução/arquivo pessoal/instagram

Em junho venci a primeira etapa do campeonato brasileiro de Paddleboard que foi realizada em maio na cidade de Angra dos Reis na distância de 14km no evento Aloha Spirit. Agora em Julho participei de mais uma prova de 14km em Trindade (RJ) onde pela primeira vez fiz uma prova técnica de 2,4km.

A prova técnica se tornou muito famosa após integrar no Pan americano na modalidade de SUP onde a primeira medalha da história foi brasileira com Lena Ribeiro. É uma prova que acontece na zona de arrebentação com saídas na areia onde você corre carregando a prancha. Uma prova muito dinâmica com total imprevisibilidade levando os atletas ao limite! Tanto para passar a arrebentação diversas vezes como voltar surfado. Nessa prova em que fiz tivemos 2 saídas na areia carregando a prancha e 9 arrebentações para passar. Além da técnica para se posicionar na prancha e ter equilíbrio nas ondas, o condicionamento físico é usado a todo momento pelas variações de esforço que acontecem de forma muito rápida.

Vale citar que em Salvador temos um grande número de praticantes de Paddleboard, o que torna o Circuito Bahiano da modalidade muito forte e atrativo. A soteropolitana Sinara Pazos é grande fomentadora da modalidade na região com uma assessoria 100% dedicada a modalidade e ainda conta com o apoio do shaper também Maurício Abudakir no fornecimento de equipamentos.

Outro foco de remadores são os praticantes de provas de salvamento aquático. Em Florianópolis as provas da modalidade de 10’6 lotam as praias, e aproximam o público da modalidade.

Para quem desejar aprender o Paddleboard em São Paulo recomendo dois lugares: em São Bernardo do Campo , na represa Bilings a base Supirados comandada por Ricardo Almada, que inclusive realiza um lindo trabalho com a categoria PCD. Lá você pode alugar o equipamento e ter aulas iniciantes para ter um primeiro contato com a modalidade e se gostar… tem o horário dos treinos também!

Minha próxima recomendação e também equipe que represento hoje na cidade de Santos, na Guarderia Recreio no canal 6 próximo ao aquário com Rogério Melo, que foi triatleta e desde de que integrou na modalidade do Paddleboard já representou o Brasil no mundial na prova técnica que mencionei acima! O mar é um ambiente muito atrativo onde pôde-se treinar mais habilidade. Lá você também não precisa de equipamento, pode alugar e fazer aulas também!

Sigo treinando para tentar a classificação para o mundial de Paddleboard, que terá sua seletiva no evento Aloha Spirit em Saquarema no mês de agosto. Um evento que também será válido como seletiva de mundial de SUP e campeonato brasileiro de diversas modalidades incluindo surf de longboard, oportunidade única de mergulhar nesse mundão dos esportes de remada!

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