Calma! É só um texto sobre as mulheres no ironman.

Olho pro lado e vejo um mar de toucas azuis. Olho pra minha, laranja. Com o
olhar mais atento, começo a buscar semelhantes a mim, acho algumas, poucas.

Assim foi a largada do IronMan 70.3 SP, 85% dos participantes, homens, que
usavam toucas azuis. 15%, mulheres, com toucas laranjas. E isso se repete em outras provas de triathlon, de curta ou longa distância. Em todas as categorias.

Onde é que estão as mulheres do triathlon? Por que a aderência a prática é tão
inferior aos homens?

Levando em conta uma prova de 70.3 milhas, conhecida como “Meio IronMan”,
o volume de treino semanal, em média, é de 10 a 14h (dependendo da fase do
ciclo). Sendo que pode ser dividido em 2 ou 3 sessões no dia. Não é simples e não
depende só de força de vontade, a prática exige disponibilidade de tempo e
dinheiro também. Um verdadeiro jogo de equilíbrio para conciliar pessoal e
profissional.

Segundo artigo publicado pela mestre e doutoranda em Educação Física Letícia Cruz e colaboradores estudo na revista brasileira de Medicina do Esporte, o perfil de triatletas brasileiros, no qual foram entrevistados 411 triatletas, apenas 30% eram mulheres e, em relação ao perfil socioeconômico, 88% estão no estrato A. Ainda assim, nota-se que, majoritariamente, vemos nas provas homens, entre 30 e 40 anos, empregados e economicamente favorecidos.

Não tratando exceções como regra, o triathlon, nessas condições, não é para
todos, é para aqueles que tem oportunidade e o privilégio de ter
disponibilidade para essa priorização.

Nesse mesmo estudo, sobre a presença limitada de mulheres no triathlon,
pontua-se como fatores determinantes: maiores jornadas de trabalho,
sobreposição de necessidades profissionais e incumbências domésticas/
familiares e consequente restrição para dedicarem-se as três modalidades.

Eu, ali, naquela largada, com meus olhos marejados sem disfarçar as lágrimas
que representavam a emoção do momento, paro de olhar para o lado e olho
para cima. Eu represento o aumento dessa % desde a década de 80. Represento uma nova geração de mulheres fisicamente ativas e que vive um estilo de vida no esporte de endurance.

Represento minha avó, minha mãe, minhas tias, minhas amigas.

Éramos 15%, mas seremos mais, não tenho dúvidas.

Imagem: reprodução/Gabriela Melo

Chegou a minha vez de entrar na água, olho para o lado e, como uma imã, fizemos uma largada feminina. Nos juntamos e nos acolhemos. Ainda somos poucas no triathlon, mas nos fizemos multidão.

Gabriela Melo aproveita o caminho enquanto nada, pedala e corre!

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