Leia ouvindo: X Ambassadors, Jamie N Commons – Jungle
Em outubro o mundo teve acesso a lista dos 100 esportistas mais bem pagos de 2019 pela Revista Forbes (caso você não saiba, a revista também é famosa pela lista das pessoas mais ricas do planeta). A lista dos 100 esportistas ganhou matéria no Nexo Jornal, você pode dar uma olhada, e fazer uma breve análise dos números aqui.
Entre os 100, uma única mulher, Serena Willians. Sua posição não é exclusiva, já que um outro atleta – homem – compartilha da mesma. Respiro fundo e penso, ainda bem que pelo menos temos a Serena. O sentimento de revolta vem em seguida: “Puta que pariu, SÓ a Serena? Como assim?”.
Respiro fundo.
Me lembro das tantas mulheres – e homens, que acham o feminismo “mimimi”, que está tudo bem ter uma única mulher em uma lista dos esportistas mais bem pagos do mundo.
Respiro fundo de novo. E quantas vezes forem necessárias.
É revoltante a imbecilidade das pessoas com o feminismo e com a igualdade de gênero. Em países latinos como o Brasil, onde o machismo impera e a falta de informação é alimentada pelas fake news, não é de estranhar comentários fúteis e sem qualquer embasamento sobre o assunto, principalmente no esporte.
Em um ano em que a Copa do Mundo feminina bateu recorde de audiência, vi muitos homens dizendo que tal audiência era onda, algo temporário e o final do Campeonato Paulista Feminino entre Corinthians e São Paulo, só provou o contrário. Ingressos esgotados, audiência representativa muito além dos 45 minutos transmitidos na TV. O futebol veio para ficar, incomodar, questionar e arrisco dizer, derrubar um sistema.
Mas a questão não é o futebol, são todos os outros esportes. O valor da premiação é diferente para homens e mulheres, a justificativa mais comum vem através da audiência. Dizem que o esporte feminino não dá tanta mídia como o masculino. Será que não dá audiência ou será que falta espaço na própria mídia?
Entre tantos argumentos furados, a WLS, World Surf League, desde setembro de 2018 decidiu surfar a melhor das ondas e pagar premiações iguais para homens e mulheres. Demonstrando para o mercado que é possível ter iniciativa sem depender necessariamente do retorno de uma audiência que atualmente está ainda maior no digital do que na própria televisão. O “ao vivo” está disponível nas lives, em qualquer rede social que escolher, e só agora a grande mídia está entendendo e debatendo pautas como essa.
Não é uma questão de performance ou audiência, é uma questão de estrutura social que precisa urgentemente ser revista.
O fato da Serena estar na lista é maravilhoso, mas ao mesmo tempo incomodo já que existem tantas outras mulheres no esporte que apareceriam na lista se não fosse a desigualdade salarial no esporte que praticam.
É urgente rever a estrutura social que vivemos. É urgente o despertar dos homens para mudar de uma vez por todas essa estrutura. Não é só as mulheres mostrarem sua competência e performance, mas os homens que fazem parte de toda a cadeia – torneios, imprensa, patrocinadores, audiência, tratarem o esporte feminino como potencial a ser construído. O imediatismo não se sustenta mais.
A igualdade de gênero não é mimimi, não é uma luta exclusiva das mulheres, é de todos.
Nunca foi tão urgente reavaliar valores e estruturas. Nunca foi tão necessário questionar.