Caminho. Caminho. Caminho. Caminho sobre o caminho em que caminho. Caminho em caminhos em que outros caminhantes caminharam.
O looping intenso de pensamentos me acompanha juntamente com o som dos passos ritmados pela minha respiração. Em altitude o ar é mais leve, menos denso, menos barulhento e acho que é assim para se equilibrar com a profundidade do mergulho que damos para dentro de nós mesmas.
Acho que os anos que passei dentro de salas de dança acabaram me condicionando a contagens em oito tempos. Me perco em mim e quando retomo a atenção, minha mente está calmamente contando meus passos até oito e recomeçando de novo. Ininterruptamente. Um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete, oito, um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete, oito, um, dois…
Já me peguei nisso por mais de uma hora, ou talvez duas, não sei. O tempo na montanha é outro, a natureza rege as horas de outra forma, que me parece inclusive muito mais sábia do que a nossa, condicionada por relógios e celulares. Desligo. Mas aqui, sem apertar botões. Deixo meu corpo ouvir meu coração bombear o sangue, deixo minha mente em modo avião, minha pele atenta, meus músculos ativos… e em algum lugar, talvez num plano etéreo, minha alma absorve a experiência de apenas ser e estar.
E depois… o susto. Depois de terminar o percurso planejado para o dia, recobro instantaneamente meu modus operandi condicionado pela sociedade. Retomo a ilusão do controle sobre meus próprios pensamentos, volto a alimentar olhos e ouvidos com infinitos estímulos externos, silencio o instinto, envelopo o sentir, anestesio o fluxo de sensações, e por algumas horas, volto a acreditar que é assim mesmo, que isso que é a vida, encher o tempo de ocupações até algo me surpreender.
Porém… cada vez menos. A cada dia que passo em contato com a natureza, os momentos de escape e conexão se tornam mais longos e a consciência do agora se estende com mais intensidade pela minha existência. Trazer essa meditação ativa para a nossa rotina é tão transformador que às vezes perdemos a capacidade de entender esse movimento racionalmente. E aí só nos resta sentir… e existir.