“Limpa o batom e joga bola, porra.”

A frase foi só para te impactar mesmo, volto nela já, já. Antes disso, senta que lá vem história.

Se você é nova(o) por aqui, talvez não saiba, mas em 2016 eu iniciei a minha transição de carreira. Sai do mundo da moda e decidi mergulhar no universo do esporte. Foi em 2016 também que comecei uma coluna no ESPN W e por lá estou, escrevendo sobre esporte e mulheres.

Foi através do conteúdo esportivo que me conectei com minha essência. Foi através do ESPN que, definitivamente, escolhi o esporte sem qualquer possibilidade de voltar ou olhar para trás.

Hoje, segunda-feira, depois da eliminação do Brasil na Copa do Mundo de Futebol feminino, eu não tive dúvidas, era hora de trazer “os esportes dela” para o holofote.

Fotografia: Bernardett Szabo

Aqui está: um primeiro texto sobre futebol, mas não é só sobre futebol.

“Limpa o batom e joga bola, porra”.

Entre as tantas frases que rodaram as mais diversas redes sociais, essa me chamou atenção.

O Brasil foi eliminado pela França num jogo que deu gosto de assistir. (Muito melhor do que muito jogo do Brasileirão). Marta que, além de ser seis vezes a melhor jogadora do mundo, se tornou também a maior artilheira das Copas, usava um batom vermelho.

Veja só, não era só o batom que incomodava. A cor vermelha sempre tão criticada pelos homens, foi a escolha da Marta. Que feliz coincidência!

Uma mulher tomar as proporções que Marta tomou, principalmente no futebol, feriu a sensível masculinidade de milhares de homens. Saímos do armário, queridos. Estouramos a bolha, amores. Marta é a maior, com ou sem aquele apelido imbecil de “pipoqueira” que esses mesmos homens criaram. O que incomoda não é o futebol, é a postura. É a causa. É uma mulher ser ouvida. E mais do que isso, é uma mulher fazer barulho e acordar tantas outras – jogando futebol.

Marta pode até ter sido protagonista nesse episódio chamado Copa, mas a história continua. No próximo episódio o protagonismo será no coletivo – sem Vadão ou uma CBF abafando um grito. É muito mais do que futebol. Estamos falando sobre mulheres lideradas por homens medíocres. Acontece no Futebol, mas acontece na empresa que você trabalha.

A Copa na França foi um esfregão na cara da sociedade brasileira. Uma sociedade machista até o talo, e que obviamente não faria diferente, deu ao futebol a masculinidade necessária. Mulheres que gostavam de futebol ou esporte geralmente eram reconhecidas como “sapata”, “mulher-macho”, “pouco feminina”. Merda pouca é bobagem, hein Brasil (mundo!)?

Foram absurdos e mais absurdos lidos no twitter, vários xingamentos no instagram e a única certeza que tenho é que se um batom incomoda tanto, imagina a crescente do futebol feminino? Imagina o feminismo? Imagina o despertar de outras mulheres?

Entre os tantos pontos que poderia abordar, o que vale verdadeiramente é esse aqui: mulheres, sejam tudo aquilo que vocês quiserem ser. Não se apeguem aos rótulos ou resultados, escutem o barulho que provocam ao quebrar mais um pouco o muro construído pelo patriarcado.

Não é só o futebol, é todo o resto.

Não é a Marta, é toda garotinha que olha para ela com inspiração.

Não é sobre sexualidade, é sobre igualdade de gênero.

Não é sobre feminismo, é sobre humanidade.

A vida precisa de esporte, entendam de uma vez por todas.

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