Venho por meio desse texto dizer que: deu ruim! Me tornei a pessoa que mais temia, a rainha do “Amanhã eu treino” e, na real, eu sei (e você também) que eu não vou treinar é coisa nenhuma.

(Enquanto escrevo esse desabafo em forma de texto, penso o quanto estou sendo vulnerável e me lembro da Brenné Brown. Gostaria de deletar esse texto? Gostaria. Obviamente que não vou fazer isso, muito provavelmente tem mais gente como eu. Rainhas do “Amanhã eu treino”, uni-vos!).

Começo com o óbvio: o que estamos vivendo é inédito! Não temos qualquer pista de como vai ser, mesmo com muita gente cravando possibilidades para o “novo normal”. Apesar de ter ensaiado uma volta aos treinos, optei por pegar a pipoca, a cerveja, arrumar um lugar confortável e observar. Com as pernas esticadas e olhar atendo, observo a volta para uma normalidade não tão normal assim.

A galera do fitness por um breve período jogou a toalha, mas não demorou para buscar. Com as academias fechadas – até outro dia, rolou umas séries ótimas com toalha, cadeira e levantamento de galão de água em casa mesmo. Quem vai além do corpo e busca no esporte um propósito maior, ferrou! Com campeonatos meio capengas, provas adiadas e distanciamento social como a melhor das opções, o rendimento caiu – e muito. Fora a saudade de acompanhar temporadas alucinantes dos mais diversos esportes. Até a Olimpíada, caiu!

Ok, eu entendo que não é momento de cobrar – ou melhor se cobrar, por qualquer resultado, mas o desânimo é inevitável. A motivação precisa ser dobrada. Aliás, não sei vocês, mas entre as tantas coisas que eu revi nesse período foi a minha motivação.

A Rainha do “Amanhã eu treino” entrou no processo de análise. Afinal, porque eu treino? E dai que nesse processo maluco, a resposta que aqueceu o coração foi a mais óbvia: para praticar o esporte que eu quiser. O treino, pelo menos para mim, vai além do corpo definido. É o caminho e não o destino final. É uma válvula de escape e ferramenta de trabalho.

Não é pela barriga trincada, mas para um core resistente o suficiente para não lesionar por besteira – a lombar, por exemplo. N˜ao é a perna torneada, mas o quanto a circulação melhora com as atividades. Não é pelo braço definido, mas o quanto ter força para suportar meu peso durante a escalada, a intensidade da remada, ou até para maior estabilidade naquele passeio de bike.

Ressignificar o treino é, com certa profundidade, ressignificar o corpo e sua potência. Em 2020 não faz mais sentido cuidar apenas do corpo, viu turma do Skincare? O momento histórico que estamos passando pede um olhar holístico para vida.

Se antes buscávamos em bens materiais acalento para nossas frustrações, e de certo modo evoluções, hoje, felizmente entendemos que autoestima não tem a ver com se sentir bonita no próprio corpo.

Volto portando, ao mesmo ponto que abordei em conteúdos anteriores: a vida nunca precisou tanto de esporte. Se treinos diários mostram nossas sombras na profundidade, observe com mais cuidado a volta – precoce – do futebol no Brasil, a NBA, aqueles que correm ao seu lado no parque, ou que pedalam juntos no final de semana…

O novo normal não existe, existem novos hábitos criados à partir de protocolos incertos. As academias estão voltando, os parques estão abertos, as trilhas já começam ter movimento novamente, os treinos estão mais criativos, a sua performance já apresenta alguma melhora, mas pouquíssimas pessoas estão dispostas a usar essa pausa forçada, como transformação. Tampouco decidiram olhar para o coletivo, para novas e preciosas informações, e muitos apresentam quadro grave de desrespeito a regras, leis e pessoas.

Em tempo, a Rainha do “Amanhã eu treino” aos poucos se prepara para o grande retorno. Por hora, voltar para a meditação e yoga fez um bem danado. Vai ver que não é “amanhã”, mas o que fez hoje.

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