A perspectiva da medalhista Luiza Fiorese, bronze em Tokyo 2020

Fiorese é integrante da seleção brasileira. Foto: arquivo pessoal da atleta

Na busca de novamente subir ao pódio no palco paralímpico mais disputado do mundo, a delegação brasileira de vôlei sentado se prepara para a longa jornada em diferentes torneios. Luiza Fiorese, capixaba de 24 anos, começou no vôlei sentado em 2018 e hoje já carrega no peito uma das maiores honrarias agraciadas à desportistas: uma medalha paralímpica. Em Tokyo, a equipe verde e amarela retornou ao país com o bronze. Agora, sobre a liderança do novo técnico, Marcelo de Oliveira, Fiorese conta que antes de pensar em ganhar os Jogos de Paris, é preciso focar na classificação.

No mês de julho, a seleção participou do Torneio da Holanda e terminou em quarto lugar. Como o vôlei sentado não faz parte do programa do Parapan-Americano de Santiago 2023, no Chile, no próximo ano a modalidade terá uma competição própria para classificar as equipes que disputarão os Jogos Paralímpicos da França, em 2024. Entre os desafios enfrentados pelo Brasil, está a dificuldade de enfrentar outros países devido à localização geográfica. 

“São poucas vagas, é muito diferente de mundial, por exemplo. Caso os Estados Unidos seja finalista do mundial, que já consegue a vaga direto, abre mais uma vaga para as Américas e a gente disputa diretamente com o Canadá. O Canadá é uma equipe que tem conseguido fazer bastante amistoso, eles tem feito muitos jogos com os EUA, que é uma superpotência. Eles fizeram uma série de amistosos também com a Itália, e vimos que ambos cresceram muito” — explica Fiorese.

Para a atleta, a preparação para Paris consiste em pequenos ciclos, com o próximo confronto já agendado para novembro, no Mundial de Vôlei Sentado. Segundo Fiorese, o torneio da Holanda serviu para ela reconhecer qual espaço ocupa dentro do time. Com menos de dois anos até os Jogos Paralímpicos, cada integrante da equipe se dedica no próprio clube e se encontram durante uma semana a cada mês.

“Pretendemos continuar com essas fases de treinamento da seleção e obviamente precisamos jogar. Esse foi o ponto fraco nosso no torneio da Holanda, não tínhamos competido jogos oficiais desde Tóquio. Temos feito amistosos com equipes masculinas, é uma coisa que ajuda bastante a gente chegar mais preparada. Hoje eu e Duda estamos treinando em Curitiba, em uma equipe masculina” — completa Fiorese.

Fiorese com a medalha de Tokyo. Foto: arquivo pessoal da atleta

Na visão da voleibolista, a conquista no Japão ultrapassou um sonho e concretizou um propósito. Nas palavras dela, a medalha coroou a vida como atleta e trouxe o auge da sua carreira até então. Fiorese pratica esportes desde a infância e na adolescência já idealizava um futuro profissional no handball. Aos 15 anos teve os planos interrompidos por um osteossarcoma, tipo de câncer no osso. A jovem teve que substituir a parte afetada da perna por uma endoprótese e foi só após o convite de outra atleta no final de 2018 que retornou a dedicação ao esporte.

“Fiquei seis anos longe. Mas não longe do esporte, longe de dentro da quadra. Eu tentei buscar o esporte de várias maneiras, não conhecia o esporte paralímpico. Isso é algo que eu luto muito hoje para que as pessoas conheçam exatamente por isso. Eu me via longe das quadras justamente porque não conhecia, por falta de conhecimento. De ter alguém, um professor de educação física, que me direcionasse, me mostrasse um caminho. E aí fui conhecer o vôlei sentado através da Gizele” — relata.

Com o objetivo de continuar no esporte, Fiorese se formou em jornalismo, mas a profissão não foi o suficiente para suprir a paixão. Até que Gizele Dias, também da seleção brasileira de vôlei sentado, a conheceu após uma participação no antigo programa televisivo da Fátima Bernardes. Na exibição, Fiorese não abordou esportes, mas a prótese e a altura da agora novamente atleta bastaram para chamar a atenção de Dias, que assistia o entretenimento.

“Foi meio que o acaso que eu conheci o vôlei, e aí por ter já essa memória muscular do esporte isso me facilitou muito a evoluir com mais rapidez dentro do vôlei sentado. As minhas condições físicas, a minha juventude, isso tudo me ajudou muito a fazer parte da lista das que foram para Tóquio com certeza” — lembra a história.

A jogadora hoje treina no Paraná. Foto: arquivo pessoal da atleta

Hoje a jogadora, ao lado de Edwarda de Oliveira Dias, a Duda também da equipe brasileira, fundou o primeiro time feminino de vôlei sentado do Paraná. Na cara e na coragem elas foram ao Sul do país e por enquanto treinam com uma equipe masculina, liderada inclusive pelo técnico Marcelo Oliveira, da seleção. Fiorese quis buscar novos objetivos e não se deixar acomodar, por isso entrou nessa nova missão. Ela acredita que cada pessoa tem um limite, mas que este só pode ser determinado por si mesmo e não pelo outro.

“A mensagem que sempre ficou para mim desde que eu cheguei é que eu poderia ser ambiciosa aqui dentro. Quando eu me tornei uma pessoa com deficiência, eu fui condicionada a acreditar que eu não poderia sonhar muito grande, que eu deveria ter a minha vida mediana. O esporte me mostrou que isso não é verdade, que eu posso sim chegar mais longe e viver os meus sonhos” — afirma.

1 comment
  1. Parabéns pela matéria, tornando o paradesporto conhecido, ao mesmo tempo valorizando o lindo trabalho da atleta. Continue nos brindando com essas matérias maravilhosa, e bem feitas.

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