Sempre morei na praia e meu quintal era literalmente alí.

Quando adolescente, meu quintal se tornou arquibancada. Vi campeonatos de surfe, em sua maioria masculinos, acompanhando da areia meu irmão e amigos. Um dia fui a um campeonato de surfe em Ubatuba pelos idos anos 80, e vi algumas garotas com as pranchas Morey Boogie (A primeira prancha de bodyboard, por isso até hoje chamam a prancha de Morey). Não conhecia a modalidade, e fiquei encantada. Falei com uma delas e comprei ali mesmo minha primeira prancha – que voltou pra casa enrolada em um cobertor no porta malas do ônibus.

Corta para o Litoral sul de São Paulo.

O que eu ia fazer com aquilo (a prancha)? Coloquei uma cordinha de prancha de surf e comprei nadadeiras de mergulho (já que ainda não tinham as específicas aqui no Brasil), e lá fui eu para o mar, aprender sozinha o esporte que tinha me encantando. Eu não tinha revistas, filmes e menos ainda internet pra poder aprender.

imagem: reprodução/arquivo pessoal

Foi nesse momento que começou meu amor pelo esporte e pelo mar. Desde lá, eu já sabia… estava ali no meu coração: eu queria viajar o mundo pegando ondas.

Com o objetivo traçado, o primeiro passo foi mudar a alimentação e praticar outros esportes, para estar melhor preparada para o surfe. Essas escolhas me levaram a cursar a faculdade de Educação física, mas não era só isso. Eu precisava de dinheiro para poder viajar, surfar e pagar inscrição dos primeiros campeonatos, não tive dúvidas: fui dar aulas de inglês para crianças.

Foi uma época maravilhosa, de realização, satisfação e inúmeras conquistas, entre elas, amizades e ídolos que trago até hoje comigo. Akemi Saito, Fábio Aquino, Irmãs Nogueira, Mike Stuart, Stephanie Petersen e tantos outros.

Apesar das inúmeras alegrias, também passei por um momento delicado em família, envolvendo problemas sérios de saúde. O bodyboard estava lá, não só como esporte, foi ”tábua da salvação”, minha terapia, minha cura. Foi onde me descobri e entendi que meu interesse não era competir, era estar no mar, pegar ondas e aproveitar a sensação ao máximo.

O esporte me levou além. Fui trabalhar na extinta Varig, e a partir daí aeroporto, o avião, o mundo! Consegui descobrir o trabalho que me fazia feliz, e tudo se encaixou perfeitamente.

São 28 anos trabalhando na aviação, onde estou até hoje, colecionando carimbos no passaporte de diversos lugares e pegando onda, como tanto queria. Havaí, Indonésia, Fiji, Nova Zelândia, Australia, Maldivas e tantos outros carimbos. E outros tantos lugares que ainda planejo conhecer. Sempre pegando onda, mas não mais sozinha, o meu objetivo cresceu e se tornou projeto de vida, ganhando novos e incríveis personagens: um parceiro de vida, uma cachorrinha, e meu melhor projeto, meu filho.

imagem: reprodução/arquivo pessoal
imagem: reprodução/arquivo pessoal

35 anos depois do dia que comprei meu primeiro bodyboard, ainda sou completamente apaixonada pelo esporte, ainda fico lembrando da melhor onda que peguei no dia, ainda pesquiso as condições de surf para os próximos dias, ainda procuro me aprimorar e aprender cada dia mais. Pratico Yoga, meditação, boa alimentação pensando na qualidade de vida para ainda poder pegar ondas por um bom tempo.

Hoje, depois dos 50, me sinto muito bem, me desafio e me conecto com a Natureza cada vez mais. Tenho certeza que meu equilíbrio e sanidade mental, até mesmo nos momentos mais difíceis que passei foram, e ainda são, mantidos por momentos no mar. É onde me encontro, me sinto em paz, me recarrego, me inspiro e consigo sentir a perfeição do criador.

O mar, pelo menos para mim, é a mais pura definição de felicidade.

>> Regina Carrelhas é executiva de vendas, mãe, bodyboarder há 35 anos, apaixonada por yoga, esportes e natureza.

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