[Esse é um desabafo de quem escolheu fazer do esporte sua vida]

Eu nasci em mil novecentos e noventa e quatro e isso já significa que talvez meu título esteja equivocado? Não sei. A verdade é que há tempos eu fico pensando sobre isso. Eu não sei a idade que eu tenho, embora o calendário diga o contrário. Quando eu era adolescente, eu vivia pensando que nasci na época errada, que queria ter vivido os anos sessenta ou oitenta. Logo eu, feminista e vanguardista do jeito que sou. Um erro. Hoje, com os meus vinte e seis anos, já penso que ser mais velha teria lá suas vantagens.

Eu sei, eu sei, eu sei. Você deve estar me achando louca, né? Embora a crise dos trinta já esteja batendo em minha porta, a minha “juventude” por vezes tem sido um problema. Sabe o meme: “o que eu estou fazendo aqui? Eu só tenho seis anos?” É o resumo da minha vida. De uma forma avassaladora, troquei a redação pelo empreendedorismo com apenas dois pra três anos de formada.

Entrei na faculdade em 2013, ano em que iniciei minha carreira no jornalismo. Formatura em 2016, quando descobri minha verdadeira paixão por esportes olímpicos e paralímpicos. Me uni ao meu sócio no início de 2017 quando comecei a engatinhar na produção de conteúdo digital. 2019 foi o ano de me jogar de peito aberto e com todas as forças, de forma única e exclusivamente, ao meu propósito empreendedor.

De lá pra cá, eu me vi fazendo reuniões de negócios, externas importantes, organizando a dinâmica de uma cobertura internacional para sete (sim, a única mulher com mais seis homens) pessoas e por aí vai. Quem corre ao meu lado entende o amadurecimento nesse processo e como tudo veio com o suor e trabalho. Passei por emissoras tradicionais, tenho a graduação e inúmeros cursos no currículo. Mais do que isso, embora minha pouca idade no RG, eu tenho uma experiência de quase oito anos de carreira.

Fotografia: Giovana Pinheiro

Nerd que sou, nunca fiz nada mais ou menos ou pela metade, eu sempre me joguei de corpo, alma e coração. Estudo o dobro, o triplo se for preciso, para embasar tudo o que sei. Porque o mundo, infelizmente é cruel nesse ponto, não adianta você saber por experiência, você mulher precisa provar por a+b. Eu sempre achei que o jornalismo esportivo era machista, mas o mundo dos negócios consegue ser ainda mais avassalador.

O combo de jovem mulher empreendedora no mundo esportivo é um cargo e tanto. Exige coragem, talvez algo que nunca tenha me faltado, confesso e sei reconhecer. Só não sei se realizo tudo que aconteceu comigo até aqui. Só sei o quanto agradeço por tudo e por estar aqui e agora. Fazendo o que eu amo, trabalhando em algo que eu acredito de verdade. Isso por si só já me faz me sentir muito mais velha do que eu realmente sou. Embora eu olhe e pense: eu me formei ontem?

O machismo, por vezes não é escancarado, mas é sutil. E se eu te contar que o sutil dói ainda mais? Machuca e te faz questionar a si mesma. É engraçada essa reflexão. Forte por fora, mas quantas reuniões já terminei chorando de raiva por ter sido desrespeitada, por não conseguir falar, por me impor e me arrepender. Se eu tivesse dez anos a mais talvez me ouvissem mais. Mas eu não quero que o tempo corra. Afinal, a vida é legal demais pra correr desse jeito. Acho que ela deve ser vivida assim… Intensamente, com propósito e amor pelo que se faz.

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